Miúdos
a votos! – os livros mais fixes
No dia 23 de abril, integrado no Dia
Mundial do Livro, foi dinamizada a atividade "Miúdos a votos!", na
Biblioteca Escolar.
“Miúdos a votos” é uma iniciativa da
Rede
de Bibliotecas Escolares e da VISÃO Júnior, que começou no ano letivo
2016/2017. A RBE e a VISÃO Júnior organizam a eleição dos livros preferidos das
crianças e jovens portugueses, a quem é dada a possibilidade, através de uma
eleição realizada nas escolas, de votarem no livro de que mais gostaram até
hoje. O processo é semelhante ao das eleições políticas, promovendo
simultaneamente a leitura e a cidadania: recenseamento, apresentação de
candidaturas, campanha eleitoral, votação e escrutínio dos votos, organizados e
participados por alunos. Durante a campanha eleitoral, estes defenderão junto
dos colegas os seus livros preferidos – podendo fazê-lo em comícios, cartazes,
programas de rádio e televisão, sessões de esclarecimento, debates… A
iniciativa é aberta a todas as escolas que tenham alunos do 1º ao 9º ano de
escolaridade.
As turmas 7º A, B e C decidiram
aderir à segunda edição desta iniciativa, tendo feito campanha por quatro dos
vinte e quatro livros nomeados a nível nacional: “A avozinha ganster”, de David
Walliams, o preferido da Daniela Medina do 7º A, “Por treze razões”, de Jay
Asper, o escolhido pelo Diogo Sousa, do 7ºB, “A lua de Joana”, de Maria Teresa
Maia Gonzalez, defendido pela Luana Sá, do 7ºD, e “A culpa é das estrelas”, de
John Green, publicitado pela Beatriz Cunha, também do 7ºD. Os alunos criaram
cartazes e espalharam motivos alusivos a cada obra, falaram com os colegas de
terceiro ciclo, que seriam os eleitores, procurando convencê-los a votar no
“seu” livro.
No dia da eleição, segunda-feira,
dia 23 de abril, data escolhida a propósito do Dia Mundial do Livro, todas as
turmas, do sétimo ao nono ano, durante a manhã, se dirigiram à biblioteca para
exercerem o seu direito de voto, fazendo-o dentro do regulamento de uma eleição
política.
Na mesa de voto estiveram a
presidente da mesa, professora Ana Júlia Marques (substituída, sempre que
necessário, pela professora Maria Generosa Rosa), e os representantes dos
alunos que dinamizaram a campanha eleitoral: Ana Maria (7ºB), Leandro (7ºB),
Margarida e Tiago (7ºD), a quem coube descarregar os cadernos eleitorais,
conforme a presidente anunciava os eleitores.
Esta atividade trouxe a Arcozelo o
Dr. Tiago Brandão, Ministro da Educação, que quis assistir ao ato eleitoral e
conhecer a escola. Estiveram presentes outras entidades, da Rede de Bibliotecas
Escolares e da Visão Júnior, da esfera política e da comunicação social.
O Ministro da Educação visitou uma
sala de aula, na qual decorria uma aula de Português, com a turma 6ºB e a
professora Celina Dias, com quem o Dr. Tiago Brandão teve uma agradável
conversa sobre leitura e outras temáticas. No auditório toda a comitiva foi
presenteada com dois momentos musicais dinamizados pelo professor Pedro Alves e
as alunas Joana Antunes e Mariana Alves, enquanto viam passar imagens de
atividades desenvolvidas no âmbito da leitura na biblioteca escolar (5 Minutos
de leitura, Encontros com escritores, Projetos “Conta-nos uma história”, “Histórias
da BE” e “Sábado na BE”). Após umas palavras do Senhor Ministro aos presentes,
que se mostrou bastante agradado com as dinâmicas da escola e se encantou com
as maravilhosas vozes das nossas alunas, dirigiu-se finalmente à biblioteca
para assistir ao que o trouxe até nós: a eleição dos livros mais fixes 2018.
Conversou com os alunos eleitores,
com os candidatos, com os membros da mesa de voto e ainda com a turma A2C, da
professora Marta, que estava na biblioteca a ler aos seus alunos a história “O
soldado João”, de Luísa Ducla Soares, obra escolhida a propósito do 25 de
abril. Uma conversa muito animada!
Antes de terminar a sua visita, o
Dr. Tiago Brandão concedeu uma entrevista ao Diogo e à Beatriz. Uma conversa
descontraída, sem pressas, bastante agradável e esclarecedora.
Beatriz
– Bom dia, senhor Ministro da Educação! Somos a Beatriz e o Diogo. Gostaríamos
que nos desse uma pequena entrevista para o jornal da nossa escola. Podemos
contar com a sua amabilidade?
Ministro
da Educação – Podem…agora já
não tenho outra saída… já estou aqui…
Diogo
– Hoje é o Dia Mundial do Livro. Na nossa escola fizemos uma campanha para
votar no livro que achamos mais “fixe”. O senhor Ministro tem algum livro que o
tivesse marcado em especial?
Ministro da Educação – Bom, eu tenho muitos livros que me marcaram
de forma especial e tenho, acima de tudo, livros que me marcaram pela idade.
Hoje é um dia muito especial, é um dia de eleição, e como alguns dos livros que
são especiais para mim estão no processo de votação, e dizem as boas regras da
democracia que no dia da eleição não se fala sobre os candidatos, eu não me vou
poder pronunciar, por isso deixo aqui em aberto que os livros são todos
fantásticos e, não tendo todos o mesmo grau de importância para cada um de nós,
porque os livros são um pouco como as pessoas, há umas que nos marcam mais do
que outras, não significa que umas sejam mais especiais do que outras… São mais
especiais para nós e com os livros é exatamente a mesma coisa… Eu tive alguns
livros que me marcaram de forma muito especial, porque me diziam muito, porque
o tema me dizia muito ou porque me fizeram sonhar e me fizeram imaginar outros
mundos. Há uma coisa fantástica para quem é leitor, isto de poder ser cidadão
pleno e leitor, e a maravilha que nos dá a leitura, é algo único. Em cada
altura da minha vida, eu tive livros que me fizeram sonhar, que me fizeram
viajar, que me fizeram conhecer sítios que eu não conhecia e que depois tive
oportunidade de conhecer, enquanto viajante, e sentir que muitos dos livros me
tinham levado a muitos desses sítios muito marcantes. Mas falo-vos de um livro
que, muito provavelmente, não leram e, se calhar, é muito cedo para vocês lerem;
mas daqui a uns anos é muito importante vocês lerem, “A casa grande de Romarigães”,
do grande mestre Aquilino Ribeiro. Romarigães é uma freguesia aqui muito perto,
no concelho de Paredes de Coura, que tem uma quinta. Nessa quinta passou uma
família, durante muito tempo, com uma grande saga familiar, de gerações de gerações,
e que mostra muito, muitas das coisas que acontecem aqui na nossa região do
Alto Minho. E esse livro marcou-me muito, porque se passava em muitos sítios
que eu conhecia muito bem, com muitos costumes, com muitas marcas de sítios de
que eu gostava particularmente, então deixo-vos aqui, para este vício da
leitura para quando vocês tiverem 19, 20 anos… Até o podiam fazer antes, mas
quando tiverem 19, 20 anos aventurem-se n’ “A casa grande de Romarigães”, do
grande mestre Aquilino Ribeiro, que passou muito tempo aqui também por esta
zona.
Beatriz
– Pode falar-nos um pouco da sua experiência como leitor? Que papel é que a
leitura desempenhou ou desempenha na sua vida?
Ministro da Educação – Bom, a leitura é absolutamente única, é a
fonte de liberdade, é a fonte de informação e, ao ser fonte de informação é fonte;
isso de liberdade aumenta-nos os graus de liberdade na nossa vida. Mas a
leitura foi para mim também muito lazer, muito ócio… mas também muita aventura
e muita avidez de todo o conhecimento que fui tendo ao longo da vida. Sempre
quis aprender mais… Eu também era de um sítio relativamente pequeno, como vocês
são; e quando se é de um sítio relativamente pequeno, aparentemente pode ter-se
um horizonte relativamente curto, mas isso não é verdade, como somos de um sítio
pequeno, sonhamos sempre muito mais. As pessoas que são de sítios grandes, às
vezes sentem que naquele sítio grande têm tudo para se sentirem em plenitude.
As pessoas que são de sítios pequenos sentem sempre necessidade de ir mais
longe. Pode ir-se mais longe pelas viagens que se fazem, pelos filmes ou pelos
documentários que se veem, mas também se pode ir mais longe pelos livros que se
leem e isso foi o que me aconteceu durante muito tempo. A leitura fez-me viajar
e agora, para mim, é fonte de informação, é fonte de relaxamento, é fonte, como
eu disse, de informação, de inquietação, ajuda-me no meu trabalho, ajudava-me
também na minha ciência, por isso, a leitura está sempre presente. Abre-nos
caminhos, faz-nos e aumenta-nos. Como eu dizia, a liberdade acima de tudo,
porque nos informa e nos mostra que muitas das coisas que nos dizem, afinal,
não são bem assim… Dá-nos também graus de liberdade para pensarmos diferente e
para poderem outros, depois, quando nós escrevemos, seguir-nos e fazerem com
que a sua liberdade aumente porque nós escrevemos para eles lerem. Isso também
é muito importante. No fundo, isto é uma cadeia que pode ser infinita, alguns
escrevem para nós lermos para sermos melhores leitores, melhores escritores,
nós escrevemos e outros vêm atrás, e assim sucessivamente. Vocês gostam de
escrever?
Beatriz
e Diogo – Sim.
Ministro
da Educação – Sim? Então façam isso, façam esse exercício e não façam esse
exercício de escrever só para vocês, escrevam para outros também. Está bem?
Mais coisas…
Diogo
– Sabemos que nasceu e cresceu numa vila aqui perto, no nosso distrito. A
escola que frequentou quando era jovem era muito diferente da escola de agora?
E como era a biblioteca?
Ministro
da Educação – Bom, a escola
era diferente, porque diferente era o nosso país; mas não era uma escola muito
diferente desta, tinha uma boa biblioteca também, muito cuidada. Quando eu era
bem mais pequeno, quando tinha até 12, 13 anos, aproximadamente, não tínhamos
biblioteca no concelho, mas eramos uns afortunados. Já ouviram falar na
Fundação Calouste Gulbenkian? A Fundação Calouste Gulbenkian tinha e tem um
programa cultural e de bibliotecas por todo o país mas, na altura, tinha umas
carrinhas que eram bibliotecas móveis. Então, todas as terças-feiras, todas as
semanas, das 5 às 7 da tarde, na praça de táxis, parava uma carrinha cheia de
livros e eu ia lá sempre. E enquanto esperava a carrinha, esperávamos todos,
íamos falando com os taxistas e contávamos um pouco dos livros que nós íamos e
queríamos ler. Entrávamos naquela carrinha que trazia milhares de livros e
requisitávamos todos os livros que podíamos; eu depois levava para casa. Eu
tinha também uma boa biblioteca em casa e lia muito e na escola, também
tínhamos biblioteca, por isso, essas várias bibliotecas, até uma carrinha que
era biblioteca, foram mudando a minha vida. A escola tinha coisas diferentes,
porque a sociedade portuguesa era diferente. A forma como eu via o mundo era
diferente, porque era nos olhos de alguém que tinha, primeiro na sua meninice,
depois na sua juventude, uma visão completamente diferente do mundo, não havia
mundo digital, não é? Não havia, ou praticamente não havia, computadores, não
havia Internet e, logo aí, tudo era diferente. Muitas das coisas que vocês
agora procuram no Google, quando precisam de saber alguma coisa, nós tínhamos
as enciclopédias, que ainda hoje existem e que são valiosas. Eu tinha em casa a
enciclopédia Luso Brasileira da Cultura, com 21 tomos, 21 livros que eu sabia o
início e o final de cada um deles, porque era por ordem alfabética. Quando
estava a dar alguma coisa na televisão, imaginem que havia um grande evento
desportivo na Costa do Marfim, eu ia automaticamente lá buscar, ia ver o que
era a Costa do Marfim. Depois sabia quais eram os costumes, qual era a capital.
Eu fazia isso muitas vezes, agora é muito mais fácil, porque à distância de um clic, e à distância de um dedo, está
toda essa informação. Mas nós não, nós tínhamos a possibilidade de ter as
bibliotecas e as enciclopédias que nos ajudavam, que agora continuam a existir,
mas agora existe tudo à distância de um dedo.
Beatriz
– O que é que o senhor Ministro da Educação tenciona fazer para que a leitura
continue a ser uma prioridade nas nossas escolas?
Ministro
da Educação – Bom, estamos a reafirmar do Plano Nacional de Leitura. Vocês
já ouviram falar do Plano Nacional de Leitura? É um plano que começou há 11
anos, que nós retomamos e reformamos, dissemos que esse era um plano
absolutamente fundamental para aumentar a leitura, para melhorar a leitura, não
só em quantidade mas em qualidade nas nossas escolas, em parceria muito
estreita com a Rede de Bibliotecas Escolares, que é uma rede, que existe em
todo o país, de bibliotecas como esta, que, de certa maneira, tem um plano de
atividades e que desafia as nossas escolas para o trabalho de articulação, em
que a biblioteca é mais do que um sítio que é só e somente visitado pelos
estudantes esporadicamente. A biblioteca é um sítio de aprendizagem, é uma
extensão natural da sala de aula e aqui acontecem coisas absolutamente
fantásticas na aprendizagem dos nossos alunos. É aqui também que se entende,
por exemplo agora com os “Miúdos a votos!”, que a leitura é importante e que a
votação e a eleição são coisas absolutamente fundamentais e que é preciso fazer
campanha e publicidade, podermos, de certa forma, chegar mais longe na nossa
leitura e na nossa democracia, mas alicerçarmos cada vez mais a leitura e fazer
com que toda a gente entenda, desde terna idade, que a leitura é absolutamente
fundamental, que nos faz viajar e que nos dá liberdade. E aqui, nesta escola, acontece
uma coisa que acontece em muitos outros sítios, que é as famílias também virem
à escola, também interagem e também criam este relacionamento com a escola de
famílias leitoras de poderem vir à escola. Em muitos sítios levam também livros
e podem ajudar, como diziam os vossos colegas mais novos, que muitas vezes
levam livros daqui, mas que depois é com as famílias que os discutem. É esse
trabalho de articulação entre os professores, as direções das escolas, as
bibliotecas municipais – que muitas vezes têm articulação também com as
bibliotecas escolares e com as famílias – que é preciso para que o livro possa
ser central, porque nós sabemos que, independentemente da Internet e dos muitos
ecrãs táteis que temos, dos muitos desafios, os livros vão sendo seres mágicos
e fazem parte das nossas vidas. Então é isso que trabalhamos e é isso que esta
escola, o senhor diretor, os professores fazem. Esta biblioteca não é um
simples acessório nem periférico da vossa escola. É um sítio absolutamente
central onde acontecem coisas mágicas como hoje estão a acontecer.
Diogo
– Muito obrigada pela entrevista. Os alunos da nossa escola terão oportunidade
de a ler no próximo jornal.
Ministro
da Educação – Muito bem! Vou
ficar à espera. E ficam vocês responsáveis de lembrar ao senhor diretor, quando
sair o jornal, que eu quero receber uma cópia lá no meu gabinete. Pode ser?
Beatriz
e Diogo – Pode.
Ministro
da Educação – Não se vão
esquecer?
Beatriz
e Diogo – Não.
Ministro
da Educação – Muito bem, obrigado.
Na despedida,
os monitores da biblioteca, alunos do quarto ano, também tiveram oportunidade
de dialogar brevemente com o Dr. Tiago Brandão e tirar uma fotografia, para
mais tarde recordar…
A iniciativa “Miúdos a votos!” foi
uma atividade muito bem-sucedida, pelo que se espera que, no próximo ano
letivo, haja mais turmas envolvidas e mais livros em campanha. Porque ler torna
tudo possível!
O livro vencedor em Arcozelo foi “A
culpa é das estrelas”, de John Green. Em breve saberemos os resultados a nível
nacional.
Parabéns a todos os que se
envolveram na atividade!
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