quarta-feira, 22 de maio de 2013



ENCONTRO COM… MIA COUTO

Um Ano


A história por detrás da história

Todas as histórias têm duas faces, a que se vê e a que se esconde. A vinda de Mia Couto à nossa escola não é exceção.

Comecemos pela atividade do dia 4 de maio de 2012 a que muitos assistiram e de que tantos outros ouviram falar…

Eram 14h30 quando o escritor Mia Couto entrou na nossa biblioteca. Todos os esperavam com a ansiedade de quem vai ver bem de perto um escritor que vive nas capas dos livros e no interior dos manuais. Como quem espera uma noiva, os olhos arregalaram-se quando o autor moçambicano se encaminhou para o altar, sublime, mas não altivo. As palavras de receção couberam ao nosso Diretor, professor Manuel Amorim, que visivelmente feliz, saudou a autor das Estórias Abensonhadas, dirigindo-lhe as palavras de todos nós. Os alunos Luís Sousa e Joana Rodrigues, do Ensino Secundário, ajudados pelos colegas mais novos, fizeram o resto… Vida e obra de Mia Couto, lida uma, declamada outra, com emoção e ternura, ambas. E depois? Depois a música invadiu o espaço e os corações: as vozes límpidas da Catarina Rego e da Margarida Monteiro ecoaram, dando as mãos às notas do professor Pedro, para completarem a magia…

E, finalmente, Mia Couto.

Se a presença do autor, velada nas histórias que inventa, nos faz bem à alma e ao coração (Quem não se torna melhor depois de ler as moçambicanas palavras?), muito melhor nos fez a sua presença real, concreta e tantas vezes sonhada. Do diálogo que se seguiu não mais nos esqueceremos: agradecimentos, exemplos, confissões, sorrisos, perguntas, respostas, emoções.

E a outra face da história?

Tudo começou em 2010, em junho, num fim de tarde quente e promissor. Mia Couto estava em Ponte de Lima, para apresentar o seu romance Jesusalém, e na escola preparava-se mais um Arraial. Nesse ano, os melhores alunos subiriam ao palco para receber das mãos do Diretor e do Presidente da Associação de Pais o Prémio de Mérito. Na hora da escolha das ofertas, a lembrança de Mia Couto imiscuiu-se silenciosa e, horas mais tarde, lá estavam as professoras bibliotecárias, diante do autor, a pedir-lhe um autógrafo para cada aluno premiado, registado num Jesusalém feito prenda.

- Querem que eu vá à vossa escola? – perguntou Mia Couto, como que diz “Eu vou!”.

- Gostaríamos muito…

- A minha assistente entrará em contacto convosco para agendar o nosso encontro, em Arcozelo, no final do ano…

- Ficamos à espera… Obrigada!!

E começou o sonho.

Ora o rumo das histórias nem sempre é o esperado e aconteceu que, nesse tão aguardado final de ano, o cidadão António Emílio Leite Couto ordenou ao escritor Mia Couto que ficasse no seu país, onde tumultos e desentendimentos internos se insinuavam, a fazer lembrar os tempos da guerra.

E a escola de Arcozelo viu-se assim adiada, num sonho que teimava em não abrandar.

Dias e noites, meses e estações, sóis e luas diziam-nos “Não vem o escritor…” ao que o sonho respondia “Pois vem, lá para o fim do tempo….”.

E veio.

Os homens de palavra ainda existem. Mia é um deles. Não se esqueceu da promessa, não se esqueceu dos alunos de Arcozelo, não se esqueceu de nenhum de nós.

Afinal “O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro.”

Estas são as duas faces da história que quiçá terá muitas outras…


A equipa da BE

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